A Encruzilhada da Avaliação: Treinar a Memória de Longo Prazo ou Despertar a Performance?

Em muitas escolas e universidades, ainda se vivencia um dilema que acompanha educadores há décadas. A aplicação de provas tradicionais. Aquelas bem conhecidas: silêncio sepulcral na sala, cada aluno imerso em seu próprio universo, proibido de conversar, de consultar qualquer material, de sequer levantar uma dúvida. Um ritual centrado na avaliação da memória de longo prazo do estudante.

Diante desses cenários, surge uma reflexão inevitável: o que realmente está sendo avaliado ali? A capacidade de reter informações e reproduzi-las sob pressão? Em grande parte, sim. Mas será que isso é suficiente? Será que essa é a melhor forma de preparar nossos jovens para um mundo que se transforma a cada instante?

Essa inquietação me motivou a escrever este post, o primeiro do meu blog, e a compartilhar uma reflexão que está no meu último livro. Uma reflexão sobre a dicotomia entre dois modelos de avaliação: de um lado, um modelo que inibe; de outro, um que liberta.

O Paradigma da Memória de Longo Prazo: A Avaliação que Inibe

A avaliação convencional, baseada em testes e atividades de compreensão leitora extremamente limitadas, opera sob uma lógica que precisa inibir as iniciativas de pesquisa e de diálogo do aluno. Ela pressupõe que o conhecimento é algo a ser adquirido individualmente e demonstrado em um momento específico, sob condições controladas que valorizam a memória. Nesse modelo, o aluno é, muitas vezes, um receptor passivo, e a avaliação se torna um mero instrumento de classificação, gerando ansiedade e frustração.

Como a imagem icônica dos estudantes tailandeses com seus "chapéus anti-cola" nos mostra, esse modelo pode levar a situações extremas e desumanas, onde o foco se desloca da aprendizagem para o controle. O efeito mais nocivo é a segregação social, que divide as pessoas por faixas de pontuação e condiciona o acesso a oportunidades. Um sistema que, desde cedo, ensina que o valor está na nota 10, e não no processo.

Alunos de universidade na Tailândia usam chapéu para evitar cola

Alunos de universidade na Tailândia usam chapéu para evitar cola.

Fonte: UOL Educação. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/noticias/2013/08/15/alunos-de-universidade-na-tailandia-usam-chapeu-para-evitar-cola.htm Acesso em 28 set de 2025.

A Performance Epistêmica Complexa: A Avaliação que Liberta

Em contrapartida, a abordagem que defendo propõe uma avaliação que se integra ao processo de aprendizagem, transformando-o em uma experiência mais rica e significativa. Uma proposta que leva o aluno a se envolver em uma prática autêntica de letramento, a exercer agência no processo, sendo analítico, crítico e criativo.

Imagine um ambiente de aprendizagem onde os alunos são estimulados a trabalhar em uma performance epistêmica complexa. Um ambiente onde eles são incentivados a colaborar, a debater ideias, a construir conhecimento em conjunto. Onde a tecnologia, como a inteligência artificial, é utilizada não para controlar, mas para ampliar as possibilidades de feedback e de documentação da aprendizagem. Nesse modelo, a avaliação deixa de ser um momento de julgamento para se tornar uma ferramenta de desenvolvimento, que estimula a autoavaliação, a avaliação entre pares e a reflexão contínua sobre o próprio ato de aprender.

A Provocação Final

E então, fica a reflexão, com uma pitada de ironia: para preparar nossos alunos para as complexas realidades do século 21, qual método está mais alinhado? Aquele que exige o silêncio e a memória de longo prazo, ou aquele que trabalha a performance epistêmica complexa, estimulando a colaboração e a criatividade? A resposta parece óbvia, mas nossas salas de aula, muitas vezes, contam uma história bem diferente.