Resenha: "Conducting Educational Design Research"
Autores: Susan McKenney & Thomas C. Reeves
Publicação: 2012
Editora: Routledge
Introdução: Unindo Rigor e Relevância
Por décadas, a pesquisa educacional oscilou entre dois extremos: de um lado, a busca por rigor metodológico a qualquer custo; do outro, a pressão por impacto prático imediato. McKenney e Reeves apresentam a pesquisa de design educacional (educational design research) como uma abordagem que dissolve essa falsa dicotomia, demonstrando que rigor científico e relevância prática não apenas podem coexistir, mas se fortalecem mutuamente.
Como afirmam os autores: "investigação rigorosa e relevante pode gerar tanto compreensão teórica quanto soluções para problemas educacionais urgentes." Este livro é simultaneamente um manifesto metodológico e um guia prático para pesquisadores que recusam escolher entre fazer ciência e fazer diferença.
Uma Estrutura Orgânica
O livro está organizado em três partes complementares que refletem a natureza iterativa da própria pesquisa de design:
Parte I - Fundamentos estabelece o território conceitual, definindo o que é pesquisa de design educacional, seus objetivos duais (contribuições teóricas e práticas) e um modelo genérico flexível para sua condução.
Parte II - Processos Centrais detalha as três fases iterativas que compõem a abordagem: (1) Análise e Exploração, (2) Design e Construção, e (3) Avaliação e Reflexão, além de um capítulo dedicado à Implementação e Disseminação.
Parte III - Avançando equipa pesquisadores com ferramentas para propor, conduzir e reportar pesquisa de design educacional, concluindo com reflexões sobre desafios e direções futuras.
Definição e Características: Mais que uma Metodologia
McKenney e Reeves definem pesquisa de design educacional como "um gênero de pesquisa no qual o desenvolvimento iterativo de soluções para problemas educacionais práticos e complexos também fornece o contexto para investigação empírica, que gera compreensão teórica capaz de informar o trabalho de outros."
Esta definição, aparentemente densa, encapsula cinco características universais:
Teoricamente orientada: A teoria fundamenta o design, estrutura a investigação e é avançada pelos achados empíricos.
Intervencionista: Busca impactar a prática através do design de produtos, processos, programas ou políticas educacionais.
Colaborativa: Envolve pesquisadores e práticos em parceria genuína, reconhecendo que expertise complementares são essenciais.
Iterativa e flexível: Ciclos de design, implementação, análise e redesign permitem refinamento progressivo baseado em evidências.
Orientada para utilidade: O valor da pesquisa é medido tanto por avanços teóricos quanto por soluções práticas que realmente funcionam em contextos reais.
Pense na pesquisa de design educacional como a engenharia da educação: assim como engenheiros desenvolvem pontes testando materiais, princípios estruturais e condições de uso, design researchers desenvolvem soluções educacionais testando teorias, protótipos e contextos de implementação. A ponte precisa tanto atender princípios de física quanto suportar o tráfego real; a intervenção educacional precisa tanto avançar teoria quanto funcionar nas mãos de professores reais.
O Modelo Genérico: Flexibilidade Estruturada
Um dos grandes méritos do livro é apresentar um modelo genérico que organiza sem engessar. Os autores distinguem três níveis de atividade:
Micro-ciclos são iterações diárias ou semanais, como ajustar uma atividade após observar estudantes confusos.
Meso-ciclos são iterações que atravessam fases completas (análise → design → avaliação), durando meses ou um semestre.
Macro-ciclos englobam o projeto inteiro, da concepção inicial à implementação em escala, frequentemente levando anos.
Os autores são enfáticos: "Livros são lineares, pesquisa de design educacional não é." Diferentes processos ocorrem concorrentemente, e o modelo serve como "trampolim para montar caminhos úteis, não fórmulas prontas."
Fase 1: Análise e Exploração - A Sabedoria do Detetive
A citação de John Dewey abre este capítulo: "Um problema bem formulado é um problema meio resolvido." A primeira fase exige uma postura dual que McKenney e Reeves chamam de detetive-inventor.
O detetive investiga rigorosamente:
Lê para compreender profundamente
Estuda o que existe
Pergunta o que é problemático
Distingue problemas legítimos de "soluções em busca de problemas"
O inventor imagina possibilidades:
Lê para inspiração
Questiona por que as coisas são como são
Pergunta o que seria desejável
Vislumbra jurisdições de mudança
Quatro estratégias de investigação de campo são propostas:
Síntese de políticas: análise de documentos e regulamentações formais
Retrato do campo: observações do que realmente acontece
Pesquisa de percepções: entrevistas e grupos focais com stakeholders
Análise SWOT: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças
O capítulo enfatiza que literatura sozinha não fornece "compreensão tridimensional do mundo real" - é crucial ver o problema em ação, quando viável. Esta fase deve produzir: (1) definição refinada do problema, (2) metas de longo prazo, (3) requisitos parciais de design, e (4) insights teóricos preliminares.
Fase 2: Design e Construção - Da Concepção à Prototipagem
Esta fase transforma compreensão em ação através de quatro atividades principais:
Brainstorming gera opções criativas, frequentemente usando técnicas como SCAMPER (Substituir, Combinar, Adaptar, Modificar, Propor outros usos, Eliminar, Reverter).
Especificação de soluções traduz ideias em proposições de design (design propositions) - conjecturas teóricas sobre como características específicas da intervenção produzirão resultados desejados. Por exemplo: "Se fornecermos feedback imediato automatizado, então estudantes conseguirão revisar textos de forma mais independente, porque terão orientação sem depender de disponibilidade do professor."
Prototipagem cria versões iniciais funcionais, frequentemente começando com um "skeleton design" - uma estrutura enxuta que captura a essência da intervenção sem todos os detalhes.
Refinamento iterativo melhora protótipos baseado em evidências, através de múltiplos micro-ciclos. Aqui, os autores alertam contra dois perigos: "feature creep" (acumular funcionalidades desnecessárias) e "mission creep" (desviar inadvertidamente dos objetivos originais).
Um conceito-chave é a distinção entre:
Design Requirements (requisitos): o que a intervenção DEVE fazer
Design Propositions (proposições): hipóteses sobre COMO alcançar os requisitos
Esta fase requer balancear expertise complementares. Como observam os autores, referenciando Stenhouse: "Não pode haver desenvolvimento curricular sem desenvolvimento docente." O envolvimento precoce de professores não é apenas desejável - é essencial para que a solução seja viável e gere ownership.
Fase 3: Avaliação e Reflexão - Testando com Sabedoria
A epígrafe de Kant estabelece o tom: "Conceitos sem experiências são vazios, experiências sem conceitos são cegas." Avaliação em design research não é apenas sobre medir resultados, mas sobre compreender profundamente a interação entre intervenção e contexto.
Os autores distinguem três formas da intervenção:
Pretendida: o que se propõe a fazer
Implementada: o que realmente acontece na prática
Alcançada: os resultados e efeitos obtidos
A avaliação segue três fases de teste progressivo:
Alpha Testing (estrutura interna) examina:
Solidez (soundness): as bases teóricas são válidas?
Viabilidade (feasibility): é possível implementar?
Utiliza técnicas "white box" (testando hipóteses subjacentes) e "black box" (testando funcionalidade)
Beta Testing (uso em contexto) examina:
Viabilidade local: funciona em contextos reais?
Institucionalização: pode ser sustentada?
Introduz o conceito crucial de tolerância da intervenção: o quanto variações na implementação comprometem os objetivos?
Intervenções com tolerância BAIXA sofrem "mutações letais" quando implementadas de forma variada. Intervenções com tolerância ALTA "degradam graciosamente" mesmo com adaptações. Design researchers inteligentes projetam para alta tolerância.
Gamma Testing (efeitos) examina:
Efetividade: alcança objetivos em condições "mundo real"?
Impacto: produz mudanças duradouras?
Distingue entre eficácia (sob condições ideais) e efetividade (sob condições representativas)
Um insight poderoso: design researchers "sabem onde querem chegar e têm fé que o processo de pesquisa os levará lá, mesmo que nem sempre saibam como a jornada se desenrolará." Esta postura combina direcionamento claro com abertura para descoberta.
Contribuições Duais: Teoria e Prática em Simbiose
Um dos capítulos mais ricos do livro detalha as contribuições esperadas da pesquisa de design, organizadas em duas categorias principais:
Contribuições Teóricas
Teorias podem ter quatro propósitos:
Descrever fenômenos do mundo real
Explicar por que/como fenômenos existem
Predizer efeitos usando descrições e explicações
Prescrever ações que produzirão certos efeitos
E três níveis de aplicabilidade:
Teoria local: contextualmente específica, "relativamente humilde"
Teoria de médio alcance: sintetiza múltiplos estudos
Teoria de alto nível: baseada em paradigmas amplos
Os autores enfatizam que "teorias não são desenvolvidas a partir de estudos únicos, mas construídas ao longo do tempo sobre hipóteses, conjecturas, evidências e outras teorias." Pesquisa de design contribui incrementalmente para este edifício teórico.
Três formas de raciocínio são essenciais:
Dedução: conclusões que seguem logicamente de premissas
Indução: generalizações a partir de observações múltiplas
Abdução: geração de hipóteses sobre relações entre fenômenos
Contribuições Práticas
"A contribuição prática primária da pesquisa de design educacional é a intervenção desenvolvida para resolver um problema real na prática."
Intervenções podem ser:
Produtos: materiais didáticos, software, ferramentas
Processos: estratégias instrucionais, métodos de avaliação
Programas: combinações de produtos e processos
Políticas: diretrizes, padrões, frameworks regulatórios
Um aspecto frequentemente sub-representado na literatura: "Outra contribuição prática é o desenvolvimento de expertise entre participantes do projeto (pesquisadores, professores, administradores, outros profissionais educacionais)." A pesquisa de design é também formação profissional situada.
Implementação e Disseminação: Para Além do Protótipo
Desenvolver uma intervenção efetiva é apenas o começo. Implementação e disseminação são processos distintos que merecem atenção metodológica própria.
Implementação envolve:
Planejamento de adoção sustentável
Formação de usuários
Adaptação a contextos variados
Monitoramento de fidelidade e adaptação
Disseminação inclui:
Comunicação para diferentes audiências (acadêmica, prática, política)
Formatos variados (artigos, workshops, recursos online)
Estratégias de escala (orgânica, planejada, policy-driven)
Os autores observam que intervenções excepcionais podem fracassar por falta de atenção à implementação, enquanto intervenções modestas podem ter impacto amplo quando bem disseminadas. Pense em software open-source versus proprietário: a melhor tecnologia não vence necessariamente; vence aquela que é adotada.
Reportando Pesquisa: A Arte de Contar Múltiplas Histórias
Antes de discutir como propor pesquisa de design, o livro dedica um capítulo crucial a como reportá-la. O Capítulo 9 confronta dois dilemas comuns que design researchers enfrentam ao comunicar seu trabalho.
Dilema 1: História Demais para Contar
Projetos de design research tendem a ser empreitadas de longo prazo envolvendo volumes massivos de dados. Como observa Dede (2004), frequentemente "tudo que se moveu em um raio de 5 metros do fenômeno foi repetidamente entrevistado, videogravado, pesquisado..."
Esta abundância de dados cria desafios: Qual tamanho de história pode ser contada? Onde encontrar audiências interessadas? Quanto detalhe é útil? Qual perspectiva compartilhar? Como descrever contexto, proposições de design, e informações para generalização?
Dilema 2: Alinhamento com Formatos Padronizados
Poucos periódicos científicos buscam publicar narrativas de design, embora Educational Technology Research & Development e Educational Designer sejam exceções notáveis. Pode ser difícil descobrir onde e como descrever a intervenção, dado que formatos padrão raramente acomodam descrições detalhadas de como intervenções são projetadas.
Os autores confrontam a crítica de que design research sacrifica rigor em busca de relevância, citando Desforges (2001): "O status de pesquisa considerada educacional teria que ser julgado, primeiro em termos de sua qualidade disciplinada e segundo em termos de seu impacto. Disciplina pobre não é disciplina. E pesquisa excelente sem impacto não é educacional."
O Conceito de "Commissive Space"
Uma contribuição conceitual importante do capítulo é a noção de commissive space de Kelly (2006) - compromissos com certas suposições sobre a natureza da investigação científica, ou as "regras do jogo".
Quando todos aceitam as mesmas regras básicas, trabalham dentro do mesmo commissive space; sem regras compartilhadas, debate produtivo torna-se quase impossível. Por exemplo, o commissive space daqueles que veem ensaios randomizados controlados quantitativos como padrão-ouro e aqueles interessados em design research tem relativamente pouco terreno comum.
Estratégia crucial: Ao reportar design research, é mais eficaz demonstrar commonalidades do que destacar diferenças com outras abordagens. Enquanto design researchers violam muitas suposições dos ensaios randomizados, compartilham suposições básicas dos métodos mistos.
Três Audiências Distintas
Audiências Internas
Objetivo: reflexão, documentação de decisões, discussão em equipe
Formato: desde formalizado até esquemático
Tom: pode ser coloquial
Função: direcionar desenvolvimento da intervenção e compreensão teórica
Audiências Profissionais Externas (práticos, especialistas, policy makers)
Objetivo: inspirar e/ou informar
Interesse principal: implicações para sua própria prática
Questões típicas: "A intervenção seria útil para mim? É prática e efetiva o suficiente para justificar envolvimento?"
Formatos: periódicos profissionais, websites, jornais, até programas de rádio/TV
Os autores lamentam que pesquisadores educacionais frequentemente falham em comunicar claramente com grupos influentes (Whitty, 2006), especialmente considerando que decisões sociais parecem cada vez mais baseadas em opinião e emoção ao invés de evidência.
Audiências de Pesquisadores Externos
Objetivo: compartilhar compreensão teórica emergente
Interesse: descrições de intervenções, ideias subjacentes, resultados e implicações de testes empíricos
Tom: acadêmico, distanciado
Critério: confiabilidade (trustworthiness)
McKenney e Reeves adotam os critérios de Lincoln e Guba (1985) para trustworthiness:
Credibilidade (paralela à validade interna): a "verdade" dos achados
Aumentada por: descrição de engajamento prolongado durante testes
Transferabilidade (paralela à validade externa): achados informativos para outros contextos
Aumentada por: descrições espessas (thick descriptions)
Dependabilidade (paralela à confiabilidade): achados consistentes e replicáveis
Aumentada por: uso das mesmas proposições de design ou mesma intervenção múltiplas vezes
Confirmabilidade (paralela à objetividade): achados moldados por respondentes, não por viés do pesquisador
Aumentada por: triangulação de métodos de coleta
Três Recomendações Práticas
1. Escolha o Escopo
Design researchers frequentemente querem contar a história inteira de uma vez - possível em livros, raro em artigos, virtualmente impossível em mídia popular. Quebrar achados em "chunks" interessantes e informativos é geralmente necessário.
Duas estratégias:
Reportar micro-ciclos individuais: cada ciclo (análise/exploração; design/construção; avaliação/reflexão) contém raciocínio coerente e contribuição (ainda que humilde) própria
Reportar temas específicos através de vários ciclos: temas bem-definidos determinam escopo, contando história cronologicamente ou não
Exemplo do livro: No estudo sobre desenvolvimento profissional de para-professores em favelas indianas (Cap. 2), foram publicados: 1 artigo sobre análise de necessidades e contexto; 1 sobre o modelo conceitual; 3 artigos sobre três ciclos diferentes de avaliação.
2. Refine a Mensagem
Criar mensagem poderosa frequentemente tem mais a ver com excluir judiciosamente informação do que com descobrir o que incluir. Duas considerações principais:
A audiência: Que conhecimento prévio pode razoavelmente ser esperado? Visualize literalmente alguém da audiência durante a escrita.
A mensagem central: Quais partes da história a audiência precisa para entender o core message? Quais são estranhas ou até distrativas?
Insight importante: nem todos os dados coletados são pertinentes a uma mensagem específica; certos dados/insights são mais poderosos que outros. Omitir fontes de dados fracas ou considerações de design mal justificadas pode trazer as poderosas à tona.
Alerta final: design researchers, muitos dos quais se apegam emocionalmente às suas intervenções projetadas, "devem às vezes lutar para focar em contar uma história coerente aos leitores, e não reportar apenas o que é importante para eles pessoalmente."
3. Busque Exemplos Inspiradores
A comunidade de design research pode aprender uns com os outros não apenas através do conteúdo dos reports, mas também de seus formatos. É extremamente útil examinar papers metodologicamente similares para boas ideias sobre apresentação concisa e eficiente de:
Proposições de design (integradas)
Descrições de intervenção
Designs de pesquisa
Dados
Insights emergentes (teóricos e/ou práticos)
O capítulo menciona Educational Designer como periódico de acesso aberto que acolhe reflexão crítica e exemplificação rica de intervenções projetadas, especialmente as bases para evolução do design.
Comunidades de Aprendizagem em Design Research
O capítulo ilustra como grupos de design researchers endereçando conjuntos particulares de problemas podem formar comunidades de aprendizagem poderosas. Exemplo: a comunidade de pesquisadores interessados em melhorar educação STEM nos EUA através de ambientes digitais imersivos de aprendizagem - trabalhando em projetos como Quest Atlantis (Barab et al.), River City (Dede et al.), e Whyville (Kafai et al.).
Embora às vezes competindo pelos mesmos recursos, estes pesquisadores também contribuíram ao trabalho uns dos outros e ajudaram a refinar a própria abordagem de design research.
Escrevendo Propostas: Imersão Antes de Articulação
O Capítulo 8 oferece orientação prática para elaboração de propostas, com ênfase em três pré-requisitos essenciais:
1. Identificação de problemas legítimos
Gap claro na literatura (não apenas desconhecido, mas importante saber)
Problema real, não sintoma secundário
Pesquisável com métodos disponíveis
Digno de investigação (contribui para teoria; stakeholders se importam)
2. Sondagem profunda "Especialmente para novos pesquisadores, é importante investir tempo e esforço sondando problemas - imergindo neles antes de tentar escrever sobre quais aspectos merecem estudo adicional."
Literatura sozinha não basta - é crucial ver o problema em ação quando viável.
3. Refinamento metodológico
Explorar como problemas semelhantes foram investigados
Considerar estudos preparatórios para testar viabilidade de instrumentos
Desenvolver familiaridade com técnicas de análise apropriadas
Um alerta importante: propostas de design research frequentemente examinam múltiplos fenômenos simultaneamente (características de cenários, implementação, respostas de participantes, ganhos de aprendizagem). Alinhar estas múltiplas linhas de investigação é crucial.
Olhando para o Futuro: Desafios e Promessas
O capítulo final oferece uma reflexão honesta sobre desafios enfrentados pela comunidade de pesquisa de design:
Desafio 1: A Dupla Busca Produzir simultaneamente compreensão teórica e soluções práticas exige expertise diversa, tempo substancial e recursos consideráveis. Nem todos os projetos conseguirão contribuições equivalentes em ambas as frentes - e tudo bem, desde que a intenção dual permaneça.
Desafio 2: Especificidade de Campo Diferentemente de ciências naturais, educação é profundamente contextual. O que funciona em Amsterdã pode não funcionar em São Paulo. Mas esta limitação é também uma força: permite compreensão profunda de como contexto molda processos educacionais.
Desafio 3: Áreas Sub-Pesquisadas Alguns domínios educacionais permanecem pouco explorados por design research. Os autores encorajam diversificação, especialmente em: educação de adultos, desenvolvimento profissional docente, educação não-formal, e políticas educacionais.
Conhecimento Socialmente Robusto
Uma contribuição conceitual importante do capítulo final é a distinção entre conhecimento "confiável" e conhecimento "socialmente robusto":
Conhecimento confiável é metodologicamente rigoroso, validado por pares, replicável.
Conhecimento socialmente robusto é adicionalmente:
Transparente em seus processos e limitações
Participativo no envolvimento de stakeholders
Impactante nos problemas enfrentados pela sociedade
Pesquisa de design educacional aspira produzir conhecimento socialmente robusto - o que Gibbons (1999) chama de "conhecimento Modo 2":
Problemas definidos na prática
Conhecimento prático e contexto-específico
Valorizado por diferentes atores (não apenas acadêmicos)
Expectativas Realistas
Os autores são francos sobre limitações: "Não espere mudança dramática em breve. No melhor dos casos, leva anos ou décadas para compreensão teórica ter impacto em larga escala."
MAS design research pode fazer contribuição clara e imediata através:
Da intervenção desenvolvida
Do aprendizado dos participantes envolvidos
Da demonstração do valor da pesquisa educacional para a sociedade
Como concluem: "Refletindo sobre conceitualizações atuais de pesquisa de design educacional e considerando caminhos futuros, parece apropriado questionar onde nós, aqueles que praticam design research, nos posicionamos em questões relacionadas à produção e uso de conhecimento... Até certo ponto, há espaço para escolha pessoal nesta questão. Mas como Gibbons (1999, 2000) apontou, a sociedade está respondendo de volta. Pesquisa de design educacional é uma forma excepcional de demonstrar como pesquisadores estão escutando."
Avaliação Crítica: Virtudes e Limitações
Virtudes
Clareza conceitual: O livro consegue a difícil tarefa de ser simultaneamente rigoroso e acessível. Definições são precisas sem serem pedantes; exemplos são abundantes sem serem prolixos.
Praticidade equilibrada: Ao contrário de muitos textos metodológicos que ou são excessivamente abstratos ou demasiadamente prescritivos, McKenney e Reeves oferecem orientação estruturada que respeita a natureza situada e criativa da pesquisa de design.
Honestidade intelectual: Os autores reconhecem abertamente limitações, desafios e tensões inerentes à abordagem. Não vendem panaceia, mas convidam ao engajamento crítico.
Riqueza de exemplos: Quatro estudos detalhados atravessam o livro, ilustrando como princípios abstratos se manifestam em projetos reais.
Limitações
Contexto predominantemente ocidental: Embora os autores tenham experiência internacional, os exemplos e referências são majoritariamente de contextos norte-americanos e europeus. Aplicação a contextos de países em desenvolvimento requer adaptação cuidadosa.
Ênfase em tecnologia educacional: Muitos exemplos envolvem design de ambientes digitais de aprendizagem. Outras formas de intervenção (currículos analógicos, políticas, processos sociais) recebem menos atenção detalhada.
Demandas de recursos: O livro é honesto sobre tempo e expertise necessários, mas poderia oferecer mais orientação sobre como conduzir design research com recursos limitados - uma realidade para muitos pesquisadores em contextos de ensino público.
Tensão teoria-prática: Embora celebrem a dupla contribuição, exemplos mostram que alcançar avanço teórico substancial E solução prática robusta permanece desafiador. O livro poderia explorar mais profundamente quando priorizar uma frente sobre a outra.
Relevância e Aplicações
Este livro é essencial para:
Pesquisadores em educação que se frustram com a distância entre pesquisa e prática, especialmente aqueles trabalhando em:
Tecnologia educacional e ambientes digitais de aprendizagem
Desenvolvimento curricular
Formação docente
Políticas educacionais baseadas em evidência
Estudantes de pós-graduação planejando pesquisas de mestrado ou doutorado que buscam metodologias que permitam contribuição prática imediata junto com rigor acadêmico.
Profissionais da educação envolvidos em design instrucional, desenvolvimento de materiais didáticos, ou liderança educacional que desejam fundamentar seu trabalho em investigação sistemática.
Agências de financiamento e formuladores de política interessados em compreender como pesquisa educacional pode gerar impacto mensurável além de publicações acadêmicas.
Conexões com Outras Obras
"Conducting Educational Design Research" dialoga produtivamente com:
"Teaching as a Design Science" (Diana Laurillard, 2012): Compartilham ênfase em ciclos iterativos teoria-prática, com Laurillard focando mais em princípios pedagógicos e McKenney & Reeves em processos de pesquisa.
"Design-Based Research in Education" (Barab & Squire, 2004): Contribuição seminal ao campo que este livro sistematiza e operacionaliza com maior detalhe processual.
"Integrating Research and Practice in Software Engineering" (Gorschek et al., 2014): Paralelos interessantes em campos que valorizam tanto rigor científico quanto utilidade prática.
"The Reflective Practitioner" (Donald Schön, 1983): A ênfase de Schön em reflexão-na-ação fundamenta o Capítulo 6 sobre avaliação e reflexão.
Analogia Conclusiva
Se a pesquisa educacional tradicional é como astronomia - observando fenômenos à distância para compreender leis universais - e a prática educacional não-pesquisada é como jardinagem intuitiva - cultivando crescimento baseado em experiência tácita - então a pesquisa de design educacional é como arquitetura paisagística científica.
O arquiteto paisagista estuda ecologia (teoria), mas projeta jardins reais (prática). Cada projeto informa compreensão de princípios universais (como luz, água e solo interagem), enquanto simultaneamente cria um espaço belo e funcional para pessoas específicas. Fracassos informam tanto quanto sucessos. E o conhecimento gerado é tanto proposicional (princípios transferíveis) quanto situado (este jardim, neste solo, para estes clientes).
McKenney e Reeves nos oferecem não apenas licença para fazer este tipo de trabalho, mas um mapa detalhado do território - flexível o suficiente para respeitar a natureza criativa e situada do design, estruturado o suficiente para garantir rigor científico.
Conclusão
"Conducting Educational Design Research" é simultaneamente manifesto, guia prático e convite ao engajamento. Para uma geração de pesquisadores educacionais cansados da irrelevância de muito trabalho acadêmico, oferece caminho metodologicamente rigoroso para fazer diferença tangível.
Os autores concluem com uma provocação: a sociedade está demandando pesquisa educacional que seja tanto rigorosa quanto relevante. Pesquisa de design educacional não é a única forma de atender esta demanda, mas é, nas palavras de McKenney e Reeves, "uma forma excepcional de demonstrar como pesquisadores estão escutando."
Para aqueles que, como os autores, "gravitaram à pesquisa de design por seus laços naturalmente próximos com a prática que lhes é cara, e em resposta ao desencantamento com pesquisa educacional que não serve, no curto ou longo prazo, para melhorar a prática" - este livro é tanto validação quanto ferramental.
É, em suma, um livro para pesquisadores que acreditam que compreender o mundo e melhorá-lo não são objetivos mutuamente exclusivos, mas dimensões complementares de uma vocação acadêmica comprometida com o florescimento humano através da educação.